Por Ana Beatriz Hoffert
Já imaginou interagir com a sua celebridade favorita enquanto ela compartilha seus produtos prediletos e melhor, que possam ser comprados com um único clique? Desde 2017, a China apresenta um modelo de e-commerce inovador com um enorme potencial de vendas, que atrai os consumidores e gera uma experiência única. O live commerce ou live shop, como é chamado o sistema de tecnologia que faz com que a venda ocorra por meio de transmissões ao vivo, foi intensificado durante a pandemia e é um modelo que vem ganhando muito espaço no mundo todo. Similar às televendas do passado, essa prática tem diferenciais primordiais: a facilidade na interação, a relevância do conteúdo e a autenticidade.
A China é o maior mercado de livestreaming no mundo, e só em 2018, nos primórdios do live shop, os espectadores de vídeos ao vivo somaram mais de 456 milhões de pessoas, de acordo com um relatório da plataforma Deloitte, e desde então, se mostra pioneira nesse modelo de negócio. Uma das maiores vendedoras e streamers do país e do mundo, Viya Huang Wei, conseguiu vender o equivalente a quase 3 bilhões de reais em um único dia em colaboração com a plataforma chinesa TaoBao Live. Cosméticos, roupas, comidas e até carros estão entre os produtos vendidos pela rainha do e-commerce. Em 2019, com a participação da americana Kim Kardashian, Viya fez uma das lives mais famosas até agora e vendeu o estoque de 15 mil perfumes da marca da influenciadora em poucos minutos.
Os números do live commerce chines seguem impressionando: em 2020, o shopping Shangai New World fez transmissões ao vivo com duração de 12 horas, que foram vistas por mais de 130 mil pessoas. Em 2019, esse mercado valia mais de 63 bilhões de dólares, marcando um crescimento de 220% em relação a 2018, conforme divulgado pela empresa chinesa Everbright Securities, e em 2020 estima-se que o faturamento seja de 129 bilhões.
Mas afinal, como funciona?
O sistema junta o que temos de mais atual e transforma numa estratégia poderosa: influenciadores das mídias sociais, streaming e e-commerce. As transmissões ao vivo traduzem as experiências e o envolvimento que uma visita a loja física proporciona ao formato digital, a interação nas lives vão desde a descoberta do produto até o atendimento pós compra, que propicia tutoriais, receitas e interações com o produto que muitas vezes são apresentadas por celebridades ou influenciadores.
Além disso, tudo acontece no mesmo ambiente digital, não é preciso mudar de aplicativo ou ser redirecionado, como o famoso “arrasta pra cima” do Instagram, que facilita ainda mais ao comprador. Esse é um sistema que oferece um novo caminho de fidelização dos clientes, uma vez que a experiência é personalizada, e foi o caminho para muitos empreendedores que tiveram que se reinventar na pandemia. A consultora chinesa iiMedia, mostra que 25% dos consumidores eram usuários diários, enquanto 71% assistiam um streaming de compras ao vivo pelo menos uma vez na semana.
O trâmite pode acontecer de duas maneiras: o live shop acontece diretamente no site ou aplicativo da loja, ou uma empresa própria é contratada para ser ‘host’ de sua live. Enquanto a transmissão ao vivo acontece, os links dos produtos divulgados aparecem em sua tela e caso queira comprá-los, o pagamento é todo feito dentro dessa mesma plataforma de forma mais simplificada possível. Ao longo de todo processo os comentários ficam ativados, e caso queira tirar alguma dúvida sobre os produtos, esse é o momento ideal.
Entrando na onda
A pandemia do novo coronavírus afetou principalmente os comércios, que foram obrigados a se mover para o e-commerce caso quisessem sobreviver. Dessa forma, no primeiro semestre de 2020 as compras online tiveram um salto de 47%, batendo os recordes dos últimos 20 anos, segundo relatório da Ebit. Além disso, os brasileiros também começaram a experimentar mais a fundo os benefícios dos vídeos ao vivo. As lives primeiro se tornaram uma estratégia de levantar fundos beneficentes, onde os maiores cantores do país faziam shows transmitidos ao vivo em parceria a causas sociais. Só no Brasil, a Associação Brasileira de Captação de Recursos estimou que essas lives levaram mais de 120 milhões de reais.
Com isso tudo, o potencial das lives já era explorado e foi um meio para se reinventar. As gigantes Americanas, Renner, Chilli Beans e a Dengo foram uma das primeiras a entrar nessa estratégia do shopstreaming, e reuniram personalidades como Isis Valverde, Alok, Camila Coutinho e Fernanda Paes Leme. A Hope, marca de lingerie brasileira, também entrou na onda e a partir do mês que vem vai utilizar o aplicativo da marca para as sessões de live shop, que contam com mais de 20 mil clientes já cadastrados.
O futuro
Dessa maneira, esse espaço virtual pode ser o novo queridinho do e-commerce brasileiro. Diego Oliveira, professor do curso de publicidade e propaganda da ESPM-SP e um dos fundadores da agência Youpper Insights, acredita que o live commerce veio como solução a uma demanda que já existia:
“o consumidor está em formato beta, assim como o consumo também.(..) O brasileiro tende a viver o experimento e as experiências e certamente estão dispostos. O grande desafio para as marcas consiste nos atributos existentes já no ato da compra em loja física ou online, ou seja, na busca de transmitir credibilidade, qualidade, originalidade, confiança e objetividade.”
Logo, as marcas que investirem nesse modelo de negócios poderão atrair mais facilmente os consumidores, mas a autenticidade e a relevância do conteúdo vão ser essenciais em sua fidelização. “Acredito na combinação dos canais entre contato com os consumidores, ou seja, o uso dos rastros digitais dos consumidores junto às intenções e desejos de compra. A interação pode começar no live commerce e terminar na rede social ou começar na rede social e concluir no live commerce” diz Oliveira.
De acordo com o Facebook For Business, as mídias sociais são o canal de suporte preferido para menores de 25 anos, com 32,3% deles afirmando que é sua primeira escolha. Junto com o live shop, esse ótimo serviço de experiência poderá fortalecer o relacionamento com o cliente e aumentar sua lealdade. Assim, vemos como essas inovações no comércio eletrônico são essenciais para a atualização do mercado e impulsionam as experiências para níveis cada vez mais altos.
A mais nova edição da Unsatisfashion, revista produzida pela Fashion For Future, discute esse e outros temas relacionados ao mercado do futuro, como o blockchain e o digital fashion. Você pode conferir a publicação na íntegra clicando aqui.
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