Existem muitas razões para conhecer de perto algumas das peças mais icônicas da moda italiana.
Você tem pouco mais de um mês para visitar a exposição Vestindo o tempo - 70 anos de moda italiana com curadoria do Professor João Braga, que está acontecendo em São Paulo, no Instituto Tomie Ohtake. Essa oportunidade única, tanto para quem estuda ou trabalha com moda quanto, simplesmente, para quem usa roupas, é imperdível. E vamos contar o porquê.
No mês de novembro, em Barcelona, a Fashion For Future teve o prazer de ouvir uma inesquecível palestra de Valerie Steele, diretora e curadora-chefe do museu do Fashion Institute of Technology em Nova Iorque. A sua fala, dedicada a sustentar a importância da moda, baseou-se em exibições de e sobre moda que aconteceram nas últimas décadas. Ela mostrou como museus ao redor do mundo, usaram roupas para contar histórias de poder, de magnificência artística, de domínio de técnicas, do avanço industrial, da mudança dos costumes, do papel dos gêneros, de política e economia etc., etc. A exposição Vestindo o tempo, portanto, é uma ocasião imperdível para acessar um universo que você, provavelmente, não tinha pensado antes.
Um dos primeiros fatos notáveis dessa exposição, é saber que os looks provêm de uma coleção privada. Enrico Quinto e Paolo Tinarelli, proprietários de um acervo de roupas com mais de 6 mil itens, trouxeram 45 looks ao Brasil que retratam um percurso de tempo limitado sobre a moda italiana, que tem início um pouco antes da Segunda Guerra e chega até os dias atuais. Imaginar as razões pelas quais colecionadores comprariam peças que grande parte das vezes foram produzidas em série, é o primeiro ponto a refletir. Qual o valor econômico ou simbólico que possuem, que tipo de destino se dá a coleções privadas e como são conservadas além de, é claro, como essas peças são e continuam a ser adquiridas, nos mostra um lado da cultura de moda que é o de sua transformação em artefatos que têm valor material, que pode ser equivalente ou superior ao de algumas obras de arte. Devemos lembrar que roupas e acessórios, como acervo de museus, foram negligenciados durante muito tempo mas agora transformaram-se em um dos mais importantes atrativos das exposições temáticas em todo o mundo. Seu valor econômico tem crescido na medida em que a moda e as roupas são reconhecidas como documentos históricos e artísticos.
Um outro ponto a refletir a partir de Vestindo o Tempo, é o fato da exposição reunir uma série de peças com diferentes estilos, de autores e inclusive provenientes de momentos históricos distintos, baixo um denominador comum: o glamour italiano. Estão alinhavados o luxo vermelho de Valentino, com a psicodelia de Pucci e com a extravagância exagerada de Versace. Esse adjetivo homogeneiza um conjunto de criações e propostas diversificadas que transforma o conceito de estilo: deixa de ser um conjunto de atributos estéticos para ser um valor abstrato que pode se concretizar de diferentes maneiras normalmente chamado de Made in Italy. A substituição de adjetivos de estilo (como minimalista, maximalista, clássico etc.) pela palavra glamour, é uma forma de eternizar a moda e de tirá-la de um tempo preciso. O glamour é atemporal, proposta defendida pela cultura de moda contemporânea que despreza o descarte e o envelhecimento programado da roupa.
Finalmente, entre tantos outros, devemos destacar que a exposição é importante para descentralizar a cultura de moda, o que significa ampliar nossas reflexões sobre o tema. O fato de apresentar nesta exposição a moda italiana como uma cultura de moda consolidada, nos proporciona um mundo que vai além de Paris como centro da moda. Isso significa a introdução de novos valores para a moda desde a Segunda Guerra, como a produção em série, a criação dos estilos, o surgimento de novas figuras profissionais como o estilista, a relação entre criação e indústria e entre produto e comunicação de moda. Devemos lembrar que no Brasil o ensino de moda inspirou-se quase que totalmente no exemplo francês e, com isso, alguns valores impostos pelo exemplo (ou modelo) da alta-costura francesa ficaram amalgamados e serviram como objetivo profissional de muitas gerações de marcas e profissionais. Este ponto é fundamental para ampliar o nosso conhecimento sobre a moda e, também, mostrar que existiram e existem outros caminhos para alcançar uma posição privilegiada nesse campo.
Poderíamos aqui falar sobre inúmeras outras aprendizagens promovidas pela visitação à exposição detalhadamente curada por João Braga, mas nos limitamos àquelas que entendemos como principais. Esperamos que a exposição inspire um desejo cada vez maior de conhecer a riqueza da moda italiana e não só, uma vez que ela apenas demonstra um amplo leque de possibilidades dentro da moda contemporânea. Se não há tantas exposições assim, existem outras alternativas. Filmes e livros sobre a moda latino-americana, chinesa, japonesa e outras, são fundamentais para se ter um conhecimento amplo sobre o estado da moda atual e, logicamente, entender seu caminho neste século.
Se você quer saber mais sobre a moda italiana, inscreva-se no curso Segredos do Italian Style.
Para visitar a exposição:
Quanto? GRÁTIS
Onde? Instituto Tomie Ohtake, próximo ao metrô Faria Lima (linha amarela)
Quando? de terça a domingo, das 11h às 20h, até dia 2 de fevereiro de 2020.
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