Como prática habitual dos criadores de moda, existe por trás de cada coleção um tema ou conceito que os inspira. Diferentemente do que costumamos pensar sobre o tema – que seria uma fonte direta de imagens decorativas que ornamentam as roupas –, ele é o ponto de partida para pensar a relação de uma identidade (a consumidora, nesse caso), com um produto de moda (cada roupa desenhada). Portanto, os temas são indicadores das cores, dos tecidos, das silhuetas e das atitudes de uma determinada marca ou coleção.
Existe um comportamento social coletivo, um pensamento comum que permeia um grupo muito grande de pessoas que corresponde ao consumidor almejado de modo que, esses temas alinham-se com essas pessoas e, por isso, acabamos nos apaixonando pelas coleções. Cabe aos criadores, portanto, fazer a leitura do tempo presente com alguma antecedência, para que ele seja capaz de criar coleções que impressionem e que se tornem desejos: a aparência projetada nas roupas que desfilam nas passarelas, deve entrar na cabeça das pessoas como símbolos de sua imagem pessoal.
Assim, não por acaso, embora cada marca e coleção desfilada em Milão tenha sua própria identidade, elas podem ser alinhavadas e condensadas em alguns temas reincidentes que dominam o imaginário do início dessa nova década. A Gucci, por exemplo, criou uma coleção inspirada na própria dinâmica da moda, tão questionada hoje em dia, que é a necessidade de se adequar a uma determinada tribo ou grupo, criando uma identidade visual homogênea que faz com que sejamos seguidores “cegos” de determinadas marcas ou estilos.
O papel da mulher atual, cada vez mais presente nos temas dessas coleções, chegou em Milão por meio de contrastes. Mulheres fortes e doces, mulheres românticas e assertivas, mulheres glamorosas e práticas e, também, mulheres bonitas e inteligentes. Essas dicotomias deixaram de ser opostos para tornarem-se complementares e as coleções de marcas poderosas como Prada, Fendi, Alberta Ferreti e Versace, mostraram ao mundo coleções para mulheres completas.
Como linha guia da criatividade das marcas que estiveram presentes nas passarelas milanesas, conceitos que permeiam questões sociais e ambientais também estiveram presentes. Assim, androginia ou essencialidade são parâmetros que norteiam a criação de marcas tradicionais, mas, principalmente, as mais inovadoras e destinadas a um público mais adepto a mudanças de comportamento. Essas linhas impactaram de forma decisiva na estética de muitas coleções – cada vez menos decorativas e ornamentais -, que buscam inovar nos materiais e nas silhuetas, mas, principalmente, nos conceitos de moda contemporânea.
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