Tempos de guerra em La vita è bella.
Aprender sobre a história da moda nos filmes é um jeito quase natural de aprender contextualizando. Vemos as roupas "animadas", isto é, em seus personagens que possuem uma personalidade e uma identidade e, também, estão inseridos em um lugar e um tempo. Claro que no cinema existem adaptações e interpretações de um momento histórico, mas se os filmes possuem um bom figurino, conseguirão representar também a história da moda.
Esse é o caso de A vita è bella, um filme italiano de 1997, vencedor de três prêmios Oscar. O enredo conta a história da perseguição aos judeus pelos nazistas na Itália, que acaba afetando a vida e a história de amor de um casal muito peculiar. Que os tempos são de guerra e de restrição de bens, não há dúvida (a história se passa entre 1939 e 1945), mas a partir da perspectiva da moda, uma questão fundamental: como a política interfere na aparência.
Mas o que há a aprender em termos de estilo? Diferentemente de outros filmes hollywoodianos que retratam o período, A vita è bella se passa numa cidade de tamanho médio (Arezzo), onde a tradição familiar tem importância. Dora, a personagem principal, é uma jovem burguesa sempre bem arrumada que exibe à perfeição a silhueta da época: ombreiras maiores que as da década de 1980, tailleur acinturado com comprimento midi que abre em godês, golas enormes, chapéus com ornamentos contidos (laços, fitas, véus e flores), bolsa de mão e o peep-toe plataforma. O salto plataforma de cortiça, aliás, foi inventado justamente nessa década pelo italiano Salvatore Ferragamo.
A estamparia, à época, não era muito disponível, ainda que nas roupas de verão ela fosse vista nas roupas mais caras e elegantes. Então, o que vemos no filme, é a presença de tons sóbrios e escuros típicos do outono e inverno, além de algumas cores bold, como o vermelho e amarelo no look total. Todas essas variações limitadas às mulheres, uma vez que os homens apenas vestiam-se de cores escuras com paletó, camisa, colete e calça.
Merecem destaque final duas observações. A primeira, é que nas ocasiões noturnas, esse período é o da exploração dos tecidos fluidos, dos drapeados e franzidos nas cinturas e ombros, dos cetins de seda e comprimentos longos. O segundo, diz respeito aos cabelos femininos, sempre mais curtos (ombros) ou presos em coques baixos. Nesse período o cabelo ondulado é a voga e todas as mulheres o perseguem, usando cremes e pastas para isso.