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Movimento Arts and Crafts: como a moda pode se inspirar

Atualizado: 29 de out. de 2021

Como listar todos os desafios da indústria da moda? Poluição, falta de inclusão, de transparência, muitas vezes, são só alguns deles. Outra pauta que cresceu ultimamente foi a facilidade da moda de fechar os olhos para as mudanças e agarrar tão cegamente a um status quo que não existe mais. Seja insistindo em castings de modelos extremamente magras ou negando a pandemia, a moda, que prega tanto o fator do zeitgeist, vem se mostrando alheia a sociedade como um todo e sem grandes inovações - um exemplo disso é a volta das semanas de moda presenciais, onde os desfiles continuaram com grandes aglomerações e com poucas renovações no formato que foi tão almejado pelos fashionistas durante o lockdown.


Como tudo isso pode ser mote, outra vez, de novas aventuras criativas? Na história, temos alguns exemplos de renovações e reações artísticas partiram de um lugar onde a insatisfação e a falta de conexão com a realidade trouxeram novos movimentos e vanguardas. Podemos usá-los como exemplo e ensinamentos para os dias de hoje. Voltemos ao século 19.


John Ruskin (1819-1900), filósofo e artista pré-rafaelita inglês, junto com William Morris (1834-1896), designer, pintor e poeta, são duas figuras essenciais quando pensamos em reformas artísticas, mais especificamente sobre o movimento Arts and Crafts.


William Morris e John Ruskin

Arts and Crafts, ou seja, Artes e Ofícios, que surgiu durante a segunda revolução industrial na Inglaterra, negou e foi contrário à mecanização dos processos de produção, ao consumo de massa, e à condição precária dos trabalhadores - que após mudar do campo para a cidade, começam a trabalhar de forma desgastante, com enormes jornadas de trabalho e baixa remuneração - e ao barateamento dos produtos conquistado com a falta de qualidade.


Os adeptos do Arts and Crafts foram críticos ferrenhos da substituição de pessoas por máquinas, pois essa prática significava a perda do bom gosto estético e do estilo. Guiados pelas ideias de Ruskin, líder filosófico do movimento, que entendia que as artes decorativas afetam o homem que a produzia, ou seja, a indústria e a máquina desumanizavam o trabalhador. Assim, tudo que saía dessa relação não era digno, afastando o homem do processo artístico e consequentemente se afastando da natureza.


Morris partilhava dessa convicção, e assim fundou sua empresa Morris & Co., dedicada ao design de objetos, que reafirmava a importância do artesanato e do design, valorizando o trabalho humano para elevar os padrões morais. Com inspirações na Idade Média - ele acreditava que esse período era bem mais interessante que a pré-renascença, porque era muito mais ligado à natureza - a produção era colaborativa e o artista também deveria ser o artesão, mostrando um conhecimento completo sobre as artes, como nas guildas medievais.


Os móveis e a arquitetura eram simples, celebrando as formas e a própria beleza do material. O funcionalismo também era essencial, afinal, Morris era avesso ao exagero do design Vitoriano, com decorações que não tinham função e eram produzidas em massa.


"Red House", como a casa de William Morris era conhecida, foi projetada por ele junto com seu colega Philip Webb, e é um grande símbolo dos ideais estéticos do movimento

Mais do que uma teoria do design, Arts and Crafts pautou-se pela grande influência do socialismo, onde inicialmente os produtos deveriam ser acessíveis às camadas mais baixas e aos trabalhadores, para que assim pudessem evoluir moralmente - já que se a qualidade e o design dos produtos evoluísse, toda a sociedade iria evoluir também. Entretanto, o custo para produzir suas ideias era bem mais alto do que os praticados pela indústria, tornando inviável trabalhar com preços baixos: rapidamente os objetos que representavam o movimento viraram artefatos de luxo, acessíveis apenas a uma pequena parcela da população inglesa.


Na moda, a maior lembrança que temos do Arts and Crafts é na estamparia. Os trabalhos de William Morris são considerados clássicos e atemporais e, por isso, utilizados até hoje como referência. Suas estampas com formas e cores da natureza, que também buscavam a estilização e a simplificação, também são muito encontradas em papéis de parede, cortinas e uma infinidade de artefatos domésticos, de louças a lustres.


Estampas características do trabalho de Morris

Miuccia Prada, que também partilha de alguns ideais socialistas, já utilizou dos florais seculares em algumas coleções, assim como Alexander McQueen, Alessandro Michele na Gucci e o belga Dries van Noten.


Prada, SS 2014

Mas como a moda pode se inspirar no movimento além das referências estéticas simplificadas?


A moda deve valorizar a mão de obra artesanal, as marcas e projetos com propósito, que se preocupam não só com a qualidade do produto mas também com o que ele representa. Humanizar os processos é essencial para promover a mudança moral proposta por Arts and Crafts, sendo a “arte feita pelo povo, para o povo”.


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Assim, Arts and Crafts transborda as fronteiras europeias e se une ao movimento internacional Art Nouveau, que surgiu por volta de 1890 na Bélgica. Ambos são pautados pela aproximação da natureza com formas orgânicas e assimétricas, porém, possuem filosofias distintas acerca da indústria: enquanto Ruskin e Morris recusam completamente a indústria, o Art Nouveau se une a ela e se coloca no centro dos processos, utilizando novos materiais e se apropriando da engenharia e da ciência.


Casa Batllo, em Barcelona, um exemplo da arquitetura Art Nouveau

Negando o design inferior e a utilização de materiais baratos, o Art Nouveau fortalece a relação da indústria com as artes, o design e o artesanal, e cumpre mais facilmente com a proposta de Ruskin e Morris de democratizar o acesso às artes.


Se opondo ao historicismo, ou seja, contrariando aquilo que vem antes dele, o movimento Art Nouveau nos mostra a necessidade de originalidade e renovação, uma vez que se apegar ao que já passou da validade não é mais interessante e condizente, algo que a moda tem resistido a fazer.


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