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Design têxtil da Bauhaus: Anni Albers e Gunta Stölzl

Atualizado: 29 de out de 2021

“Arquitetos, escultores, pintores, todos deveremos retornar ao artesanato. Não existe nenhuma diferença essencial entre o artista e o artesão. O artista é a elevação do artesão.” Esse trecho é do manifesto de 1919 da escola alemã Bauhaus, escrito por seu fundador, o arquiteto Walter Gropius (1883-1969), e sintetiza a visão da primeira e mais importante escola de design do mundo: a elevação do artesanato às artes, e, sobretudo, a introdução de algumas técnicas artesanais na indústria para a produção em larga escala.



Fundada após a primeira Guerra Mundial na cidade de Weimar, na Alemanha, a Bauhaus se tornou o berço do design moderno ao buscar linhas simplificadas e formas definidas pela função. Gropius fundiu o trabalho manual dos artesãos com a dimensão estética das “Belas Artes”, em um ambiente multicultural que seguia uma filosofia de vida simplista de “espírito livre” e se dizia ser pautada pela igualdade, com um ultramodernismo sem pudores. Dessa forma, se tornou um dos movimentos e instituições mais expressivos e influentes da arte no século 20.


Artes, arquitetura e design eram seus principais eixos, mas a escola contava com dezenas de oficinas, como de metais, madeira, aço, tecelagem, pintura, teatro, entre muitas outras. “Formaremos uma escola sem separação de gêneros que criem barreiras entre o artesão e o artista. Concebemos uma arquitetura nova, a arquitetura do futuro, onde a pintura, a escultura e a arquitetura formarão um só conjunto,” dizia Gropius.


Em 1929 a escola se transferiu para a cidade de Dessau, instalada em seu prédio mais famoso, onde começou uma maior troca com a indústria. Em uma Alemanha hostilizada após a primeira Guerra Mundial, os recursos financeiros eram poucos e muito importantes, por isso, em 1932 a escola se mudou novamente, dessa vez para a capital do país, Berlim. Nessa sua última fase, sob a direção de Mies van der Rohe, o funcionalismo tomou conta sob a perspectiva do “menos é mais.” Em 1933, com a instalação do regime nazista, Hitler ordenou o fechamento de Bauhaus, alegando que era uma escola “anti-gêrmanica” e degenerada.


Com apenas 14 anos de funcionamento, o estilo e a filosofia bauhausiana foram capazes de influenciar o mundo contemporâneo até hoje. Na moda, Yves Saint Laurent foi o primeiro a fazer uma referência direta à escola com o seu vestido Mondrian, com linhas retas e simplistas em cores primárias, inspirado nas obras de Piet Mondrian, ex-aluno da escola, o que, para muitos, simbolizou a elevação da moda à categoria de arte.



Além disso, a influência da Bauhaus no ensino de arte e design no Brasil é muito grande e importante, e chegou no país em 1950. O Instituto de Arte Contemporânea do Museu de Arte de São Paulo, idealizado por Pietro Maria Bardi, mentor intelectual e então diretor do MASP, seguia muitos preceitos da Bauhaus e imitava sua filosofia. Bardi acreditava que São Paulo era o grande centro industrial do país, e por isso, precisava renovar a visão das elites acerca da arte, ampliar o acesso à elas com a produção industrial e, também, a infundir com o artesanal.


Uma escola para todos?


Durante a primeira Guerra Mundial o trabalho feminino foi essencial para as diferentes potências, que dependiam dessa mão de obra para abastecer as cantinas, socorrer feridos ou até mesmo tocar os empregos de homens que foram participar dos combates, como cobradores de ônibus ou operadores de máquinas.


Não havia mulheres em escolas, muito menos em instituições especializadas em artes e arquitetura, mas a Bauhaus se dizia disposta a mudar isso. “Qualquer pessoa de boa reputação, independente da idade ou sexo” poderia frequentar o lugar, não haveria distinção entre o “sexo forte” e o “sexo belo”, dizia seu fundador. Porém, sua escolha de palavras já mostrava que a prática seria diferente da teoria-manifesto. Com uma alta taxa de mulheres inscritas nas disciplinas da Bauhaus - que chegava a ultrapassar o número de homens - Walter Gropius acabou excluindo as mulheres dos cursos principais.


O “elemento feminino” não poderia ocupar mais de um terço das turmas. A oficina de tecelagem então virou um refúgio quase obrigatório - já que não eram aceitas em outros lugares - para as mulheres bauhausianas. Baseado na experimentação e na produção industrial, o ateliê foi responsável por criar padrões e peças têxteis que criaram diálogos aparentemente impossíveis entre a indústria, o artesanato e a arte.



Gunta Stölzl (1897-1983), que iniciou na Bauhaus já em 1919, mudou totalmente os padrões têxteis que eram produzidos até então, introduzindo a abstração na tecelagem e trabalhando com técnicas inéditas. Seus padrões coloridos e complexos misturavam linhas onduladas que se fundiam em mosaicos de quadrados coloridos. A complexidade e inovação de seu trabalho foram reconhecidas, e a tecelagem se tornou o ofício mais lucrativo da Bauhaus.



Stölzl foi aluna, professora, mestre e diretora do ateliê, e revolucionou o design têxtil. Em seus anos iniciais na escola, a tecelagem ainda era vista como um passatempo feminino, algo com menor valor artístico. Por conta dessa desvalorização a experimentação tornou-se a base do ofício, e muito do que se fazia no ateliê era aprendido fora das paredes de Bauhaus.


Além dela, Anni Albers (1899-1994), que iniciou seus estudos em 1922, também contribuiu para definir a potencialidade da tecelagem. Albers, que pretendia estudar pintura, transformou o tecido em sua própria tela. Inspirada pelas obras de Paul Klee, misturou o design industrial com o artesanato, sem nunca esquecer da sua funcionalidade. Foi responsável por criar um tecido insonorizado, reflexível e lavável, feito com algodão e celofane.



Foi a primeira mulher a receber um diploma da escola, e em 1931 se tornou chefe da oficina de tecelagem da Bauhaus. Simples mas ao mesmo tempo revolucionária, Anni Albers, de origem judaica, fugiu da Europa em 1933, e também consolidou seu trabalho nos Estados Unidos, se tornando a primeira designer a ter uma exposição solo no MoMA em Nova Iorque. Suas criações geométricas com cores neutras eram feitas de fios de metal, crina de cavalo, celofane e fios tradicionais, sempre na base da experimentação.



Na moda, o trabalho das duas designers e a filosofia e ideais de Bauhaus são exaltados até hoje. A quebra do paradigma do exagero e do maximalismo foi uma das maiores contribuições para a moda de Bauhaus, que introduziu um pensamento simplista e funcional, que vemos em criações de muitos designers como André Courrèges, Jil Sander e Phoebe Philo, por exemplo.


O inverno 2019 da designer grega Mary Katrantzou foi uma homenagem literal à escola, e a criativa utilizou a icônica tipografia da ‘Bauhaus’ para estampar algumas de suas peças. Também referenciou a escola por meio de shapes abaloados - uma referência ao “balé triádico da Bauhaus", uma apresentação desenvolvida em 1922 por Oskar Schlemmer onde os figurinos dos dançarinos constroem formas diferentes da silhueta do corpo. As fantasias surrealistas também são vistas como inspirações para Iris Van Herpen, com seus shapes abstratos e futuristas.



Em 2018 Paul Smith também colaborou diretamente com a fundação Anni Albers e reproduziu seus trabalhos em tricôs, cachecóis e lenços, criando uma coleção exclusiva.


Quer conhecer mais sobre os personagens da Bauhaus e aprofundar na história da escola? A jornalista Winnie Bastian, que também participará do curso exclusivo da Fashion For Future 'Moda + Artesanato, tem um guia publicado na edição impressa da revista Casa Vogue: confira!


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