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Corset: a moda é controversa


Por Jaqueline Tatanashivili


Todas as vezes que alguma grande marca de moda decide trazer os espartilhos de volta, a polêmica em torno da controversa peça retorna. Mas será que os espartilhos chegaram mesmo a desapar­­­ecer das passarelas e do guarda roupa feminino? Basta uma olhada para a história da moda para perceber que a libertação das mulheres atribuída a Poiret e Chanel, parece não ter sido assim tão bem sucedida.



"Bataille", 1925, Paul Poiret. Fonte: MET Museum


De fato, o espartilho não desapareceu completamente do guarda roupa feminino e nem das passarelas. O espartilho estruturado com barbatanas acabou restrito ao underground e mais tarde foi “ressuscitado” e ressignificado pelas subculturas. Notadamente com a estilista Vivienne Westwood e a estética punk. Seu famoso bodice hoje é parte do acervo do Victoria & Albert Museum, e mais recentemente voltou aos holofotes ao ser adotado por Bella Hadid, uma das atuais queridinhas dos estilistas e fashionistas. Um dos ressurgimentos mais memoráveis da peça, foi sem dúvida o espartilho com sutiã cônico, criado por Jean-Paul Gaultier e utilizado por Madonna no início dos anos 90.



Bella Hadid, em 2019, com a peça vintage de Vivienne Westwood da coleção de 1993.

De E o Vento Levou até Bridgerton, cenas de mulheres sendo oprimidas pela peça nas telas, moldaram nosso imaginário. Acabamos instintivamente associando o espartilho com roupas de baixo, especialmente porque essa imagem da mocinha sendo cruelmente espartilhada é um recurso constante nas produções cinematográficas de época.


A historiadora da moda americana Valerie Steele (curadora e diretora do Museum at the Fashion Institute of Technology – MFIT), em seu livro Fetish: Fashion, Sex & Power, esclarece que no período vitoriano poucas mulheres foram de fato adeptas do tight-lacing, o “treino” com espartilhos para modificação corporal. Sendo essa uma prática restrita ao universo fetichista, então recém surgido, e impulsionado pela descoberta e popularização da fotografia.


Fica fácil imaginar o quão contraditório pode parecer, uma mulher do século XXI vestindo um símbolo de opressão feminina com forte apelo fetichista. Mas em reportagem para BBC, Steele afirma que embora tenha escutado o argumento do espartilho ser um artigo de moda “desempoderador” inúmeras vezes:


"É um erro ser condescendente com as mulheres, sugerir que todas foram vítimas estúpidas por 400 anos".

A moda é cíclica, e cada vez que algo ressurge, ganha novos significados, às vezes somando-se aos já existentes, outras vezes os substituído por novos valores e interpretações mais ao espírito do seu tempo. A peça criada por Gaultier e imortalizada por Madonna, pouco lembra seus antecessores, sendo muito mais uma subversão provocativa do que uma homenagem ou simples reprodução das formas do passado.



Tour Blonde Ambition, 1990.


Um exemplo bem contemporâneo das reações que o espartilho provoca, foi o debate surgido após Kim Kardashian aparecer quase imobilizada num modelo Thierry Mugler, no MET Gala 2019. E nem mesmo o improvável segmento de moda esportiva ficou de fora, a Adidas, recentemente popularizou um top inspirado nos espartilhos do século XVIII. Os tutoriais diy inspirados no modelo Adidas têm feito sucesso no Pinterest e Instagram em versões upcycling criadas com roupas da Nike.







Jaqueline Tatanashivili é mestra em História pela PUCRS, atualmente doutoranda pela mesma universidade, com experiência de pesquisa internacional, metodologias de História Oral e publicações relacionadas à moda, à imigração e à Cultura Escandinava. Contato: jaqueline@tatanashvili.com








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