Não importa o lugar, a técnica ou o tipo de produto, o artesanal é, e vem cada vez mais se consolidando, como sinônimo de qualidade, beleza e diferenciação. Aos poucos a indústria da moda está encaminhando para a quebra dos estigmas que envolvem o artesanato, deixando para trás a imagem de que um produto artesanal é antigo, menos trabalhado, de menor valor ou com técnicas ultrapassadas. Por isso, é preciso se atentar a esse movimento que promete crescer cada vez mais e conhecer as características contemporâneas, que estão presentes não só em objetos, mas em novas maneiras de se pensar o consumo, o design e claro, a produção.
Os new makers, aqueles que estão mudando a cena artesanal e ganhando destaque no mercado mundo afora, incorporam o know-how artesanal, que é baseado em uma série de experimentações, estudos, e na mão de obra altamente qualificada, valorizada e remunerada como tal. Como aliadas eles contam com inovações tecnológicas, além de uma nova cultura e novas propostas de se pensar um produto, completamente diferente daqueles provenientes da produção seriada. São os novos tempos modernos, agora sem Charlie Chaplin e sem um trabalhador no chão de fábrica que nem sabe o que está produzindo e menos ainda poder consumir aquilo que produz freneticamente.
Além disso, o artesanato contemporâneo não é mais exclusivamente pensado como um tipo de manufatura de objetos, mas também inclui uma série de habilidades artesanais que são aplicadas em grande variedade de consultorias e outros serviços baseados no saber fazer, muito comuns na alta costura parisiense, por exemplo. É uma maneira muito mais consciente, sustentável e humanista de se pensar. O artesanato, mais do que um passatempo, ou DIY, é um emprego sério (e muito bem remunerado quando valorizado) para milhares de artistas, artesãos e empreendedores. Para termos uma ideia, de acordo com o IBGE 2019, esse mercado movimenta mais de 50 bilhões de reais por ano apenas no Brasil que, como se sabe, nem é o lugar do mundo que mais valoriza todo esse know-how...
Na era da transformação digital, os artesãos são livres para trocas culturais, sem fronteiras geográficas - que já foram essenciais para o consumo dos produtos- , pois agora permite-se que milhares de pessoas conheçam seu trabalho por meio da internet. Aqui, o consumo visual também é valorizado. A comercialização da peça do artesão vai muito além do artefato em si, mas parte da integridade criativa visual, da identidade e da distinção, pois o artesão também é “diretor criativo” de suas estratégias de negócio.
Se antes pensávamos o artesanato como algo local, restrito a um comércio de bairro, os ideais mudaram. O artesão passa a se relacionar de forma distinta com o “senso de lugar”. Seja por conta das relações que existem ali, como uma relação histórica, de tradição (por exemplo, as rendeiras de Veneza, na Itália), pela influência que o ambiente tem no trabalho, ou até por uma questão de sustentabilidade.
Há anos, principalmente na Europa, onde já existe uma tradição artesanal consolidada por fatores como incentivos econômicos e políticos do Estado, exposições mostram trabalhos artesanais que colocam o humano como personagem central da produção. De bicicletas, objetos de design e arquitetura, até roupas produzidas pelos mais diferentes designers-artesãos, o que é exposto ali é sinônimo de inovação, exclusividade e luxo, afinal, são peças muito mais únicas e que acumulam horas e dias de trabalho concentrado. O tempo gasto para a produção, a atenção que o artesão dá àquele objeto, a matéria prima e os processos... tudo é valorizado.
Por mais contraditório que pareça, a competitividade do artesanal também é vista na indústria, onde o artesão pode criar peças conceituais únicas ou trabalhar com um design exclusivo para a produção em lote.
Na primeira edição do evento Homo Faber, que aconteceu em 2018 em Veneza, o italiano Sergio Pedemonte utilizou fibras de carbono para criar bicicletas personalizadas feitas sob medida. O cliente participa de todas as etapas de produção, garantindo que o produto confira conforto e excelência máxima conforme o perfil do consumidor.
Confira uma seleção de trabalhos dos new makers que estão dando o nome do artesanato contemporâneo na indústria:





Participe do encontro "O artesanato na moda: estratégias de criatividade e negócios"
com Bruna Rigato
13 de julho de 2023, quinta-feira, das 15h00 às 16h30

Como criar uma colaboração estratégica entre o artesanato e a indústria da moda?
Designers nacionais e internacionais têm celebrado cada vez mais técnicas artesanais em suas coleções, colocando o artesanato como uma estratégia de valorização e comunicação para as suas marcas que procuram se diferenciar para os consumidores cada vez mais exigentes e informados.
Por outro lado, o Brasil, com a sua extensão e diversidade cultural, oferece um território rico para colaborações entre o universo do artesanato e a indústria da moda. As possibilidades são inúmeras, mas se não for planejado e aprofundado, caímos em uma relação de estereótipos e parcerias desiguais.
Neste FashionLab, vamos mostrar os caminhos nos quais o artesanato é uma estratégia para os negócios. E assim, fomentam a criatividade e a excelência nos produtos de moda e na sua comunicação, criando um lifestyle de marcas que unem inovação com tradição.
Estratégias internacionais de sucesso que estão redefinindo a indústria contemporânea da moda:
Como incluir o artesanato no design de produtos de moda
Como definir o artesanato como parte do lifestyle de uma marca de moda
Como comunicar o artesanato para valorizar as marcas de moda
Para participar, inscreva-se aqui
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