Desde que no início da década de 2000, no Brasil, os cursos de moda e os profissionais da área transferiram sua auto-denominação de estilistas a designers de moda, o papel do design começou a ser questionado. Deveríamos esperar alguma diferença entre os profissionais que se viam como um ou como outro? Essas nomenclaturas tinham relação com uma atividade, procedimento ou mesmo setor da empresa? E, mais importante que tudo isso, o que mudava na moda se ela fosse vista como design?
Em grande parte desse período, sentimos que as diferenças entre o que seria moda e o que seria design foram destacadas, ao invés de, mostrar que todos nós estamos envolvidos por uma cultura do design de moda. Isso porque a produção industrial trouxe novidades para nossa relação com a roupa e, são justamente essas novidades que permitem que exista um amplo mercado de moda, tanto para profissionais quanto para o consumo.
Podemos dizer que o ponto de partida é o sistema francês que criou as bases cultura de moda ocidental. De uma certa forma, foi em Paris que o ato de vestir-se foi associado à comunicação e expressão de uma certa posição na sociedade. Essa posição não é apenas econômica, mas também de gosto e intelectual, de modo que parecer tornou-se praticamente ser. Naquele contexto - falamos dos séculos 17 e 18 -, um costureiro poderia ditar regras de bom gosto que seriam copiadas por outras pessoas. Bem ou mal, essa autoridade foi emprestada para a alta-costura e, até hoje, tem sua validade.
Mas foi a Revolução Industrial inglesa que trouxe novos procedimentos a esse processo - do criar, do produzir e do difundir informações sobre moda -, pois transformou a exclusividade em oferta indistinta. Além de separar a figura do criador daquele que produz as roupas, esse sistema inglês, ao inventar o designer, deu origem também a novas práticas de desenvolvimento de produtos. Seriação, padronização, estilização e outras, são algumas características da moda contemporânea que interferem, definitivamente, no nosso modo de ver e de usar roupas a favor da construção de nossa identidade.
Quais são, então, os novos atributos da moda trazidos por essa dinâmica produtiva? Muitos, com certeza. O que mudou, na realidade, não é a qualidade de nossa criação ou mesmo do produto - algo do tipo liberdade para criar -, mas sim a forma que criamos, tanto em termos de referências quanto de perspectivas.
A realidade do setor de moda hoje e quem somos nós
As indústrias de moda (em seu sentido amplo, e não te fábrica) passaram por um período de grande transformação desde a década de 1980 em virtude da acelerada digitalização de processos. O que começou de forma técnica (funcionamento de máquinas) e operacional (softwares substituíram atividades manuais, como o desenho de estampas ou realização de modelagens) -, entrou no sistema de produção enquanto técnica (tecnologia 3D estamparia digital, por exemplo). Todas essas novidades alteraram profundamente as estruturas e organogramas industriais mas, principalmente, fizeram nascer novos perfis profissionais e modelos de produção. Talvez, em 2021, uma fábrica com um único profissional pudesse produzir mais que uma dos anos 1970 com 50.
Novos desafios, no desenho da profissão, também entram em jogo na era da comunicação que atravessa nosso setor. Questões como autenticidade, pesquisa, sustentabilidade, mão-de-obra, transparência etc., estão na boca dos profissionais criativos, mostrando que, cada vez mais, a criação é uma atividade integrada que responde às demandas da sociedade e não uma voz autoritária e limitada a questões estéticas. O novo profissional de moda deve ter uma visão em 360 graus.
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